às vezes a vida nos permite um ensaio complexo e cheio de pesquisa, e às vezes tudo que temos é uma listinha inspirada numa trend do tiktok.
pois é: hoje falaremos sobre coisas que eu acho impossivelmente chiques1. e é um assunto que eu confesso amar.
é que ser chique é um negócio muito chique, né? acho que um dos grandes objetivos da minha vida é de fato ser uma mulher chique, e portanto, é claro que estou sempre catalogando num espaço reservado só pra isso na minha mente (e no meu pinterest) tudo que eu considero ocupar essa categoria.
um elemento essencial da chiqueza é a naturalidade, quer dizer, quem é chique o é sem qualquer esforço. é uma linha tênue: tentar demais acaba sendo cafona. estamos falando de um certo je ne sais quoi, de uma qualidade intrínseca, de um estilo de vida. o que torna tudo ainda mais complexo. é quase uma busca interior para desabrochar a mulher chiquérrima2 que eu torço estar escondida aqui dentro de mim. talvez o segredo seja a maturidade?
sei lá. essa é a primeira edição de uma nova editoria que criei para os momentos em que a vida pede um pouco mais de mim e eu acabo sem muito tempo pra escrever. o nome é meditação & groselha porque nada aqui é importante. ninguém precisa ser chique pra ser feliz, e não estamos falando de regras que devem ser seguidas a qualquer custo. eu só queria mesmo puxar esse assunto e jogar uma conversa fora.
aliás, é até bom quebrarmos esse gelo: acho a ideia de ser intelectual e reflexiva o tempo todo um pouco chata. uma boa dose de groselha é um contrapeso sempre bem-vindo, afinal a vida raramente é tão séria assim. dito isso,
vamos então às dez coisas que eu acho impossivelmente chiques:
fazer análise. é importante frisar que não falo aqui de qualquer forma de terapia: a psicanálise, apenas ela, simplesmente tem uma qualidade muito chique sobre si. não me perguntem o porquê, eu não criei as regras.
ser profundamente quem se é. não justificar escolhas, gostos, hobbies. assumir suas próprias incoerências e as tratar com bom humor. não existe nada mais chique do que uma pessoa confortável na própria pele.
pequenos reloginhos de pulso (ponto extra para os vintage!). confesso achar tenebrosos esses relógios com tela touch espelhada, e além disso, sempre me sinto engolida por eles, mesmo os tamanhos menores. entendo que os smartwatches cumprem sua função, mas nada supera um reloginho analógico com cara de que saiu diretamente do armário da sua avó.
maquiagens minimalistas. tudo que você precisa em uma única nécessaire, uma corzinha na boca e bochecha, a textura e as marquinhas da pele aparecendo. um delineado borradinho e você tá pronta pro happy hour. a simplicidade é absolutamente chique.
ingressos de museus reutilizados como marca página. na verdade, qualquer souvenir de museus, exposições, livrarias. nada me faz me sentir mais cool do que sair pro supermercado com minha ecobag da strand, livraria independente de nova iorque (também tenho a do el ateneo, outra livraria belíssima, de buenos aires)3.
o combo regata + calça jeans. casual, zero esforço, chique.
ponto extra para a sapatilha e a bolsa gigante. foto: Pinterest. ser curiosa e interessada sobre as outras pessoas. genuinamente escutar o outro numa conversa. uma raridade hoje em dia, e absolutamente chique.
descobrir coisas offline (e não porque alguém na internet recomendou). escolher um livro perambulando na livraria, um perfume provando na loja. encontrar sem querer, andando por aí, alguma coisa que é a sua cara! esse garimpo da vida real: chique.
roupas feitas em fibra natural (algodão, linho, seda). roupa de plástico é uma aberração do capitalismo, gente. e uma catástrofe ambiental!
literatura russa. eu não consegui chegar nem na metade da metade da edição de guerra e paz que tenho aqui em casa. a minha eu do futuro que chegar até o final será chiquérrima.
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mudando de assunto,
esse fim de semana eu assisti ao filme twisters (sequência do twister, de 1996, aquele sobre tornados?) — e confesso que amei.
ele entregou exatamente o que eu precisava de um blockbuster: um cast de personagens carismáticos, uma ciência duvidosa que é obviamente coisa de filme mas que em momento algum pretendeu ser realista (!!!), um par romântico over the top, e o bônus: protagonismo feminino sem precisar martelar isso na audiência.
é um filme com cara de filme, sabe? acho essa onda de querer tornar os filmes absurdamente realistas uma grande catástrofe, afinal quando assisto a um blockbuster o que eu quero é o irreal, o fantástico, o absurdo. forçar a barra pra que tudo seja realista e exageradamente politicamente correto tira um pouco a magia da coisa4.
claro que o filme não mudou minha vida, nem me causou uma grande reflexão. mas precisava? acho que não. já estabelecemos que uma groselha é exatamente o que a gente precisa de vez em quando.
além disso, (alerta de mini spoiler!) eu amei que na hora h a protagonista tava lá sozinha encarando seus medos e salvando o dia. ela precisou de um monte de gente (inclusive do par romântico) pra chegar lá, mas na hora que o bicho pegou ela tomou a decisão e foi. na vida real, a coisa tende a ser assim mesmo. é a gente com a gente mesma, indo atrás do tornado gigante que é a vida.
eis que talvez o filme tenha me causado alguma reflexão, after all.
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em um crossover não planejado dos assuntos de hoje,
gostaria de acrescentar: a atriz protagonista do twisters, a daisy edgar-jones, é sem sombra de dúvidas a mais cool do momento. ela faz dancinha no instagram sem pedir desculpa, ela é ávida frequentadora de festivais de música, ela estrelou uma adaptação da sally rooney para a tv. não consigo pensar em nada mais chique.
🥂
💌 notas da autora e conversinhas paralelas
a edição de hoje foi pura groselha então não sei se tenho muito a acrescentar aqui. você viram o babado do oasis? eu seria capaz de ir a um show deles unicamente para ouvir don't look back in anger ao vivo. quem sabe vem aí.
no mais, deixo aqui as duas edições anteriores pra quem tiver perdido:
espero te ver nas próximas!
-Larissa
vi essa ideia pela primeira vez aqui nessa news:
eu sou absolutamente contra a palavra “chiquíssima/o”, embora saiba que é a forma correta desse superlativo. eu não consigo acreditar que a língua portuguesa cometeu essa gafe de não escolher “chiquérrima/o” como forma correta.
além de chique, é muito brat.
talvez essa frase tenha ficado um pouco polêmica? me refiro aqui aos filmes que tornam o politicamente correto seu foco. descentralizar o protagonismo de homens brancos americanos é incrível, mas acho que dá pra fazer isso de maneira mais autêntica. foi exatamente isso que gostei no twisters. não é uma filme que fica o tempo todo te avisando “olha aqui, é uma protagonista feminina!!! olha como ela é uma mulher forte e independente!!!”. sabe?
Adorei o filme também, me marcou por ter apresentado o estilo de filme a minha filha. Ela adorou também. Sobre o texto eu achei muito leve e chique sua forma quase despreocupada em abordar temas tão comuns e quem nem sabíamos que eram necessários. Acho chique! Beijinhos
mulher, amei esse texto num grau. Groselha chique! Me inscrevi na news. Bjs.